Espero minha vez para ser atendido na farmácia.

No balcão, uma mulher com uma longa lista de medicamentos parece satisfeita com o atendimento do Jurandir, o farmacêutico que se esmera em lhe explicar cada uso.

Ao seu lado, um garoto de uns dez anos pergunta impaciente: mãe por que você não compra na máquina?

Que máquina, questiona ela?

Mãe, agora as farmácias têm máquinas, tipo caixa eletrônico para vender remédios.

O farmacêutico? Parou e ficou meio assustado com a informação.

A mãe? Não deu muita atenção e prosseguiu conferindo as caixas.

Eu? Já procurei no Google e sim, confirmei que algumas redes estão instalando “vending machines”, máquinas para a venda de produtos de uso irrestrito.

Continuo acreditando que nada substitui um bom atendimento pessoal mas, toda vez que vejo uma notícias sobre avanços digitais em atendimento, penso…

Sinal do progresso ou do retrocesso?

Progresso da tecnologia que se adequa a oferecer soluções a um estilo de vida cada vez mais rápido, ágil e efêmero?

Retrocesso das relações pessoais e comerciais, incapazes de criar e manter vínculos?

Vínculo talvez seja o conceito decisor à resposta.

Somos gregários e buscamos vínculos capazes de nos satisfazer. Se este elo faltante for humano, avançamos nas relações sociais, mas se uma máquina ocupar este espaço com maior competência, teremos a confirmação de relações como a de Theodoro e Samantha, Joaquin Phoenix e Scarlett Johansson em ELA, filme de 2013 que traduz as dores e prazeres de uma relação entre humano e máquina.

Concorrência é sempre bem-vinda.

Quais os pontos fortes de Jurandir? Sorriso, empatia, contorno de objeções, capacidade de relacionamento. Gostei dele.

Mas Samantha também é sedutora. No filme, está sempre de bom humor, é assertiva nas respostas e ágil nas conclusões. Gostei dela.

Estou certo de que o farmacêutico vai pesquisar sobre a tal máquina das drogas e se atentar sobre possibilidades de melhorias.

Já a tal Samantha, instalada na estação Pinheiros do metrô, também vai ser usada, testada, aprovada e criticada para evoluir sempre. No fundo, sempre teremos espaço para tudo e todos que conseguirem gerar clientes felizes, mesmo quando carregam mais de dez medicamentos na sacola.