Eu já estava deitado, tentando dormir.
Ouço um barulho no quarto.
Busco dispersar… voltar ao nada.
O som persiste.
Levanto-me, ajoelho no chão, olho debaixo da cama.
Inseto? Barata?
Encontro a tampa do perfume que havia sumido, há uma semana.
Como foi parar lá?
Aromas nos levam a lugares improváveis, desconhecidos, prazerosos.
Mas a tampa, normalmente, nos traz de volta, lembrando sempre que tudo na vida se fecha, se encerra, termina. Precisamos economizar, nos economizar?
Retomo a busca pelo barulho.
Abro a janela na esperança de que venha lá de fora.
De fato, tudo que estranhamos deve vir lá de fora. Nossas certezas são mantidas intactas quando, aqui dentro, o silencio impera.
Enquanto observo as árvores em busca do som, a vizinha me dá um “oi” sem muita convicção.
Deve ter estranhado minha atitude suspeita de quem perdeu algo e não sabe o quê.
Gosto desta vizinha. Somos diferentes em jornadas, horários mas nos respeitamos a uma boa convivência.
Acho até que temos um carinho especial pois um conhece as diversidades do outro e prosseguimos nos cumprimentando.
Acho que isso é afeto.
Frustrado, fecho a janela, o ruído prosseguia interno.
Apago a luz. Volto pra cama. Transformo o ruído em som, o som em ritmo, o ritmo em melodia.
Relaxo e durmo.
Que você termine o ano assim.
Transformando barulhos em melodias… resgatando aromas apesar das tampas… cultivando saudações em momentos improváveis ou seja…
…dando à sua vida, o melhor sentido que ela pode e deve ter.
Hoje à noite, amanhã de manhã… no novo ano inteiro.
0 comentários