Recebo o convite de uma amiga para jantar em seu apartamento.

Chego ao prédio, subo pelo elevador, saio no corredor, me aproximo da porta, toco a campainha.

No chão, vários sapatos enfileirados.

Um tênis All Star surrado, uma sandália Arezzo pink, um mocassim italiano com a sola meio gasta…

A porta se abre e minha amiga sorri, me dando as boas-vindas.

Aproveita o clima “welcome” e sugere: se importa de entrar descalço?

Eu, pouco preparado para compartilhamentos súbitos de intimidade, sorrio e, numa atitude “of couse”, deixo o meu sapatênis verde ao lado de um Nike preto.

Na sala, revejo pessoas que conheço medianamente de rosto, mas não de pés.

Quem será a Madame Arezzo? E o pseudo jovem All Star?

Tento manter a atenção e o vínculo na conversa, com alguma dificuldade e muitas constatações subliminares: fulano faz a barba tão bem mas não corta as unhas… Ciclana com esse esmalte roxo nos pés e azul nas mãos?

Fico pensando nas surpresas que o ser humano nos reserva e nos desafios das pesquisas que tentam desvendar o perfil comportamental dos consumidores.

Realmente, de perto ninguém é normal.

Sempre que leio resultados de pesquisas afirmando com convicção que homens entre 30 e 40 anos preferem carne vermelha enquanto as mulheres de 40 a 50 optam por frango, fico pensando se esse entrevistados foram abordados “com ou sem sapatos”.

Tirar os sapatos para alguém requer intimidade, confiança e vínculo. Como obter tudo isso? Relacionamento, relacionamento, relacionamento.

Por isso, as pesquisas obtidas nas ações de CRM sempre são mais eficazes que as abordagens súbitas feitas mediante um simples toque da campainha e um sorriso acolhedor.

Pense nisso.

É importante conhecer o seu cliente por inteiro, por dentro e por fora, de cima a baixo. Mas não seja ansioso nessa abordagem.

Avance aos poucos de maneira estratégica e relevante.

Assim, você vai perceber que o Arezzo pink divide o mesmo armário com o mocassim italiano, há anos, e que o All Star, provavelmente, irá passar a noite no apê da minha amiga.