Fui assistir à Nathalia Timberg no teatro.
A atriz acaba de completar 95 anos. Está em “A Mulher da Van”, um texto inglês que nos conta as dores e prazeres de uma senhora que mora dentro de uma “perua” e resolve estacionar seu veículo em frente das casas.
A história aborda a longevidade, a pessoal e a mútua. Nosso empenho e energia para vínculos duradouros.
Traz a reação de moradores aflitos ao perceber que a van pode poluir a paisagem. Uma van velha, dirigida por uma mulher velha.
Que benefícios pode ter?
Somos seres antagônicos. Ao mesmo tempo que valorizamos a estabilidade, também somos ávidos por novidades.
Em Marketing, o conceito de longevidade talvez seja um dos mais desafiantes a serem construídos.
Fiquei pensando nas minhas relações mais longevas.
Algumas amizades surgiram nos anos 70. Algumas marcas, consumo desde os anos 80. Alguns amores me acompanham desde os 90.
Me empenho para que estejam comigo há tanto tempo. Às vezes, penso sobre a relevância de alguns destes vínculos.
Fernando Pessoa nos lembra, “pensar é estar doente dos olhos”. Se pensamos demais, amamos de menos. Nada traz maior adesão que uma boa experiência sensorial. Sentir-se querido, lembrado, valorizado.
Na saída do teatro, uma amiga comenta: Nathalia está idosa, mas ainda gera entusiasmo.
Será que ainda gero entusiasmo nas minhas parcerias, quando abro a geladeira e pego o pote de maionese, cuja marca me acompanha desde os sanduiches na adolescência?
Marcas precisam estar atentas a isso, à gestão do “fogo da paixão” com seus clientes, ao longo dos anos.
Aliás, sabem quem são esses consumidores que colaboraram e sustentaram a empresas, ou fomos esquecidos dentro da van?
A senhora da van deve ter várias histórias, mas poucas pessoas estão interessadas. Querem se livrar do velho, do antigo, ultrapassado.
Descartam o fato de que o velho carrega a sabedoria da experiência, enquanto o novo traz a esperança da mudança. Ambos são necessários e complementares.
Que possamos nos empenhar na conquista de novos clientes com o mesmo empenho na conservação dos mais antigos.
Porque nada melhor do que ter vários veículos na garagem…
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