Entro no metrô logo cedo, na certeza de que ainda darei um cochilo, de casa ao trabalho.

Estação Madalena, vagão vazio, corro para o canto e encosto na janela.

Atrás de mim, um casal se dirige ao lado oposto do vagão. Também sonolentos parecem se acomodar para mais alguns minutos de ZZZZZZZZZZZ.

Estação Sumaré. A moça se levanta, olha para o rapaz e diz: besta.

Assustado, abro os olhos e percebo que ela atravessa o vagão para se sentar perto de mim.

Tento ser acolhedor: está tudo bem?

Ela responde objetiva: está sim, mas detesto brincadeira besta no metrô.

Fico pensando o que seria uma brincadeira besta…

Um aperto de mão? Uma carícia na perna? Um beijo roubado?

O moço parecia tranquilo, não tinha cara de tarado.

Estação Clínicas. O casal parte, cada um por uma porta diferente.

Torço para que façam as pazes na escada rolante.

Penso nas empresas taradas. Você conhece alguma?

Elas chegam, colocam uma oferta do seu colo, oferecem brindes, descontos, parcelamentos, condições especiais apenas hoje.

Um verdadeiro assédio comercial.

Não entendem nada sobre sedução e vínculos. Querem roubar a venda entre uma estação e outra.

Relações assim tendem ao fracasso, às vezes, à delegacia.

Muita atenção nas suas abordagens comerciais.

Evite as tentações de curto prazo, capazes de provocar muito susto e pouca satisfação.

Impulsos batem metas mensais. Relações garantem a longevidade.

Por isso, observe seu futuro cliente com calma e sabedoria, seja estratégico, faça pesquisas, converse com ele antes de mostrar seus dotes.

Estação Consolação. Saio e subo as escadas rolantes. Na calçada, um rapaz oferece flores a uma moça.

Será que ele ouviu meus pensamentos?