Na minha infância, a missa aos domingos era o meu principal compromisso fora de casa.
Um pouco mais crescido, descobri que domingo também era dia de pizza e assim, meu dia de graça ficou mais divertido.
Até hoje, frequento missas e pizzarias. À igreja, vou de vez em quando, inclusive para pedir perdão da gulodice a ser cometida após a ceia sagrada.
Pois semana passada, saboreava minha marguerita e pedi mais uma cerveja ao Chico, garçom que me atende há anos.
Ele, educado, anotou, sorriu e sumiu.
Após uns quinze minutos de espera, pensei: deve estar escolhendo uma gelada, no freezer. Sim, prossigo acreditando em milagres.
De repente, eis que surge, vindo em minha direção, de mãos vazias e sorriso aparente, pronto para atender o casal recém-chegado, atrás de mim.
Ainda tentei um aceno como lembrete da minha “gelada”, mas não fui bem sucedido. Ao invés da cerveja, meu atendimento é que havia esfriado.
Ouço a abordagem e me impressiono com o zelo em explicar os tipos de massa, variedade de recheios e até a tecnologia do forno à lenha.
Me lembro desse script, alguns anos atrás, em minha primeira visita à pizzaria.
Hoje, já como “prata da casa”, ainda sou recebido com o sorriso gentil, padrão, quase técnico.
Fiquei com vontade de me levantar e pegar a minha cerveja. Já tenho tempo de casa para isso.
Mas pensei que esta autonomia pudesse causar constrangimentos. Me mantive na serenidade e na melancolia de um copo vazio.
Por que será que novos clientes sempre geram mais entusiasmo às empresas?
Estas nem sabem os motivos desta primeira visita, não conhecem as preferências nem a predisposição a um relacionamento duradouro.
Entretanto, concentram suas verbas e estratégias para saudá-los como reis, enquanto nós, velhos súditos da marca, somos relegados.
Minha pizza esfriou, minha cerveja não veio e o casal foi embora pois queria uma massa vegana que a pizzaria não oferece.
Eu, embora tivesse comungado na missa, não me contive e vibrei feliz com o fracasso do atendimento. Inveja, ciúmes e vingança a encerrar o domingo, de uma maneira pouco angelical.
Olhei bem para o Chico e pedi a conta. Ele se desculpou pelo esquecimento da cerveja e, desta vez, foi bem rápido em fazer o fechamento.
Paguei, levantei, olhei, sorri e comentei: seus pecados foram perdoados Chico. Semana que vem você compensa me trazendo uma “breja” na cortesia.
Em nome de Jesus.
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