“Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.”
Fernando Pessoa sempre nos provocando…
Resgato o trecho de “Tabacaria”, após a ligação telefônica que me deteve por quase meia hora.
No outro lado da linha, uma moça querendo a minha opinião sobre ovos de páscoa.
- Se gosto de chocolate? Sim.
- Se compro sempre? Sim.
- Se vou comprar ovos? Não sei.
- Se… Sim…
- Se… Não…
Questionário extenso e indiscreto para entender o meu potencial de compra.
Será que entrevistas auxiliam no conhecimento sobre o consumidor?
Virou moda meio inconsciente. No dia seguinte à compra, chega o e-mail ou SMS, “que nota nos dá de 1 a 10”
Sempre desconfio da resposta de alguém que, talvez, pense uma coisa, declare uma outra e pratique uma terceira.
Calma! Não estou descredenciando as pesquisas que são fundamentais para uma definição preliminar de um público-alvo.
Abordagens qualitativas abrem espaço para segmentações comportamentais e percepções de imagens. Já as quantitativas nos ajudam no potencial de consumo, venda, receita e lucro.
Mas e depois da tabulação e análise?
Segue Pessoa com sua habitual sabedoria, “vá à confeitaria”.
Significa dizer que acompanhar o consumidor em sua jornada de compra é fundamental e complementar a qualquer coleta de dados.
O momento da compra é rico e único. Nele o consumidor mostra-se aberto a estímulos capazes de elevar ou reduzir sua predisposição.
Não estou falando das promoções que nos provocam a uma compra impulsiva e descomprometida. Foco no esforço em conhecer questões subliminares.
Um bom atendimento, uma abordagem pós-venda mudam a rota do consumidor e podem transformá-lo em um cliente fiel. Precisamos investigar estas questões.
Por isso, gostaria muito de receber a ligação da moça do chocolate, após a Páscoa.
Abriria meu coração a ela com mais sinceridade e motivação.
Dividira prazeres e frustrações de uma vivência real. Afinal de contas, um outro trecho de “Tabacaria” nos lembra com certa melancolia e muita precisão:
"Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Que possamos capturar os sonhos dos nossos clientes e perder menos tempo com o vazio das respostas genéricas de uma abordagem nada poética.
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