Não se falou de outra coisa, nesta semana: taxas.
Apesar do mau humor generalizado, ouvi a frase otimista de um amigo: prefiro taxas a tachas.
Fiquei pensando a respeito.
Sempre desconfiei de palavras que parecem irmãs gêmeas, mas não se suportam. “Taxa” e “tacha”, por exemplo. Separadas por uma letra e por um dicionário inteiro de intenções.
A taxa usa gravata, trabalha no banco, adora um percentual e vive metida em planilhas. Já a tacha é mais rústica. Anda de macacão, segura um martelo e tem um prazer quase sádico em grudar coisas onde ninguém pediu. Uma prega no tempo. Outra, na madeira.
A taxa é cobrada. A tacha é pregada. Uma pesa no bolso, outra fura o dedo. Ambas tentamos evitar, mas enquanto a taxa machuca o bolso, a outra machuca o dedo.
E, ainda assim, as duas convivem no mesmo idioma, como vizinhas que trocam acenos sem nunca tomar um café juntas. A taxa sobe, a tacha desce — em geral no pé de alguém desavisado.
Mas há algo bonito nessa convivência desconfortável. Porque, no fundo, a taxa e a tacha nos ensinam que diferenças podem existir sem briga, desde que cada uma fique no seu parágrafo. A taxa pode ser abusiva, a tacha, pontiaguda — mas nenhuma tenta ser a outra. O segredo da harmonia talvez seja esse: aceitar que não dá pra viver só de taxas, nem só de tachas. Precisamos das duas. Uma financia a casa. A outra segura as fotos de família.
E se um dia você estiver revoltado com o aumento da taxa de juros, lembre-se: pior seria se fosse a tacha de juros.
Porque ninguém quer ver um martelo na mão do gerente do banco.
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