Adoro essa canção da Adriana Calcanhoto e, nesta semana, me lembrei dela em função de uma história contada por uma amiga.
O casal estava completando um ano de namoro.
Ele e ela, felizes demais, queriam comemorar em um restaurante bacana.
Ela escolheu o melhor, pesquisou o guia da Veja, avaliou estrelas e decidiu, será lá.
Ele, mais tranquilo e apaziguador, seguiu a fórmula responsável pela longevidade do namoro, sorriu e aceitou
Ela fez a reserva e pediu uma mesa especial, nem muita luz nem muita sombra, perto da janela com vista para a cidade.
Pois a grande noite chegou e se iniciou na porta do tal “5 estrelas”.
À espera de alguém que os recepcionasse, ficaram esperando com um otimismo pouco convicto.
Como ninguém apareceu, entraram e citaram a reserva.
Garçom sorri e pergunta ao maitre que sorri e pergunta ao gerente que sorri e pede um minuto.
Após acomodarem o casal, todos desaparecem. Vinte minutos de total ausência de serviços, ele acena ao garçom que se aproxima e pergunta, pois não?
Confuso com um cardápio que prometia juntar lulas com beterrabas, abacaxi com raiz forte e panceta com espumas de lima da pérsia, o casal se rendeu: “é a nossa primeira vez aqui, estamos comemorando nosso aniversário de namoro e gostaríamos de uma experiência gastronômica inesquecível.”
Garçom sorri e pergunta ao maitre que sorri e pergunta ao gerente que sorri e pede um minuto.
Após vários “uns” minutos, vem o chefe de cozinha explicando com detalhes cada prato.
Só não pergunta a questão principal: “do que vocês gostam?”
Pagaram uma fortuna por um nhoque de mandioca banhado em tinta de lula e consumiram a maior parte da noite decifrando o cardápio e o atendimento.
Só não saíram brigados do local porque, como já disse, ele sorri e aceita.
Tenho sérios problemas com restaurantes cinco estrelas. Se a estrela for Michelin, entro em pânico.
Com raríssimas exceções (e vou adorar se você me indicar uma delas) o foco está 100% no cardápio e 0% no cliente que deve fazer o favor de provar e gostar.
Qualquer varejo funciona bem, mediante o equilíbrio do tripé: Produto + Ambiente + Atendimento. Se um dos pés não vai bem, os demais o sustentam.
Quem nunca comprou algo que não queria em função de um atendimento? Ou deixou de comprar porque a loja estava feia e abafada?
Marketing é composição de recursos utilizados de maneira eficiente para a satisfação do cliente. Simples de dizer, difícil de praticar.
Por isso, pare de dizer que sua marca é estelar e se detenha em observar se o seu brilho ilumina bem o seu público-alvo.
Do contrário? O final da canção que eu adoro, profetiza ameaças…
O amor soprou de outro lugar
Pra derrubar o que houvesse pela frente
Tenho que te falar
Essa canção não fala mais da gente
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