Semana passada, na padaria, um senhor pede uma empada. Seus olhos brilham ao vê-la se aproximando.
Entendo perfeitamente a emoção. Também amo empadas.
Na primeira mordida, êxtase total de quem saboreia os primeiros pedaços de palmito.
Na segunda mordida, um pouco mais de serenidade, talvez causada pela fome parcialmente saciada.
Na terceira mordida, a decepção de quem sente falta de algo importante: cadê a azeitona?
Temos uma mania estranha — e bastante humana — de achar que o que nos falta merece mais atenção do que o que temos. O que foi embora vira saudade ou dor.
O que está aqui, do nosso lado, respirando o mesmo ar, vai ficando invisível com o tempo.
É como se a ausência tivesse um perfume raro, e a presença, um cheiro comum. E aí a gente se pega idealizando… a casa que não compramos, o emprego que não aceitamos, a viagem que adiamos — tudo isso ganha contornos quase míticos. Como se a felicidade estivesse sempre um pouco além do nosso alcance, escondida justamente naquilo que não aconteceu.
As pesquisas de mercado detectam este comportamento. O cliente destaca seus desejos e pouco valoriza a satisfação presente que, rapidamente, se transforma em percepção incorporada.
A gente se esquece que o presente é o que há. É aqui que a vida pulsa. É no agora que moram os abraços disponíveis, os cafés divididos, os silêncios cheios de companhia. A ausência pode até inspirar belas frases ou contundentes reclamações. É justo; mas é a presença que sustenta os dias.
Talvez seja importante rever esse costume de glorificar o que se foi e menosprezar o que ficou. Porque o que está conosco hoje pode ser justamente o que vai fazer falta amanhã. E aí, de novo, entraremos no ciclo de lamentar o que perdemos e ignorar o que temos.
O conceito de satisfação é composto pelo que se oferece hoje.
A vida não acontece na ausência. Acontece na presença. Dentro ou fora das empadas que ela nos traz.
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