Saio do metrô, em plena 2ª feira de Carnaval.
Apressado, quero chegar logo em casa.
De repente, ouço um grito: “Fernando, bora pro Ritallena!!!”
Tento reconhecer quem me chamou e observo um egípcio, um padre, uma odalisca e uma samambaia. Todos mascarados.
Ao me aproximar da samambaia, identifico Helena, uma vizinha em aparente estado de euforia. Me deu um abraço molhado, manchou minha camiseta de glitter e saiu rindo e repetindo…vamos…vamos…!
Sorri meio sem convicção e fui me afastando. Minha festa seria em casa.
Helena é minha vizinha há anos. Discreta e educada, sorri e me cumprimenta sempre que passa em frente de casa. É recepcionista numa clínica médica.
Estava irreconhecível de samambaia.
Fiquei pensando sobre o que leva as pessoas a assumirem atitudes, algumas tão surpreendentes quanto inusitadas.
Dizem que a dor ou o prazer provocam esse movimento, mas gosto de pensar numa terceira opção: uma causa, um propósito.
Há quem passe a vida inteira esperando um grande chamado, uma revelação que esclareça, de uma vez por todas, o motivo de sua existência.
E se o propósito não for um destino fixo, e sim um movimento aleatório, como um bloco de Carnaval?
Por uma causa, já pintei o rosto e sai em passeata, já levantei bandeira e sai gritando, já fiz duas horas de esteira sem reclamar.
Causa nos definem.
Jorge Bem Jor tem uma música que diz: “Por causa de você, bate em meu peito, baixinho, quase calado, coração apaixonado.”
Vivemos acreditando que só seremos plenos quando encontrarmos “o” propósito, como se ele estivesse perdido em algum canto do mundo, esperando para ser descoberto. Mas talvez o propósito não seja um lugar ao qual se chega, e sim a forma como escolhemos caminhar ou nos relacionarmos.
Alguns encontram sentido no que fazem, outros na forma como fazem. Para uns, propósito é arte, ciência, família, aventura. Para outros, é simplesmente acordar e tentar mais uma vez.
Helena vibrava com uma Heineken nas mãos. Eu vibrava para chegar em casa e tomar banho com meu sabonete Phebo.
Marcas também podem nos causar emoções, estímulos capazes de nos despertar a paixão e a fidelidade.
Seja lá qual for a sua causa, que ela não seja uma obsessão que paralisa, mas uma bússola que aponta caminhos.
Porque, no fim das contas, o maior propósito é viver de maneira que faça sentido – mesmo que esse sentido mude com o tempo, mesmo que você se esconda atrás de uma samambaia.
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