Em visita ao “sacolão”, vejo bananas descascadas, embaladas e plastificadas numa bandeja.
Oferta perturbadora.
Já vi de tudo nessa vida. Milho descascado, coco descascado, mandioca descascada, abacaxi descascado (adoro).
Até gente descascada já vi.
Mas banana descascada? Como assim? Por quê? Para quem?
Fiquei pensando se os produtos são criados em função de uma necessidade específica de um consumidor ou se é este que surge em função de uma oferta inédita apresentada.
Steve Jobs era conhecido por antecipar as necessidades dos consumidores e criar produtos que as atendessem, muitas vezes de forma inesperada.
Ele acreditava que a melhor tecnologia deveria ser acessível e compreensível, e que os produtos deveriam melhorar a vida das pessoas, mesmo antes de estas assim desejarem.
O resultado pode ser visto na minha, na sua, na nossa mesa ou bolso.
Vivemos tempos de provocação, no qual o consumo deixou de ser apenas sobre suprir necessidades e passou a ser um reflexo daquilo que desejamos ser.
E será que desejamos bananas já descascadas? Será que tirar o emaranhado plástico da embalagem não é mais trabalhoso e poluente?
Ao longo dos meus anos como publicitário, já vi gente de todo tipo, comprando coisas de todos os tipos.
Nosso papel é unir estas duas partes, em clima de “honey moon”, com responsabilidade e satisfação.
O que dizer dos consumidores?
Em geral, não conhecem claramente suas necessidades. Por consequência, suas buscas são genéricas e tentam preencher vazios que nem sabem de onde vêm.
A verdade é que as empresas têm nos convencido de que consumir é quase sinônimo de existir.
Reconhecer nossas reais necessidades exige coragem. É preciso se despir do barulho das vitrines, das promoções e dos algoritmos que insistem em dizer o que queremos.
O que realmente importa é mais silencioso. Não é tão fácil quanto parece, mas talvez o primeiro passo seja entender que, às vezes, menos é mais.
E sobre as empresas? O que dizer?
Observe alguns movimentos que elas fazem, no sentido de transformar produtos em objetos de desejo, mesmo quando não são essenciais. Essa estratégia explora as aspirações pessoais, criando a ideia de que consumir é sinônimo de sucesso, felicidade ou pertencimento.
Também é notável a substituição de produtos por meio da obsolescência programada ou percebida.
Campanhas publicitárias usam gatilhos emocionais, como exclusividade, urgência (“oferta por tempo limitado”) ou recompensas (“leve dois, pague um”). Essas técnicas exploram impulsos humanos, como o medo de perder uma oportunidade.
Precisamos ficar atento a estas dinâmicas e perceber que o nosso “living center global”, passa por ataques e transformações.
Incentivos irresponsáveis de consumo agravam problemas ambientais, gerando mais resíduos e explorando recursos naturais de forma insustentável.
Ao mesmo tempo, o consumo excessivo pode gerar insatisfação emocional, ao substituir relações humanas por bens materiais.
A vida nos pede esforços. Descascamos problemas, muitas vezes sem uma faca para ajudar.
Que tal focar nas cascas que nos impedem de provar o essencial?
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